segunda-feira, 20 de julho de 2015





Aprendendo com as árvores


O poeta Olavo Bilac, em poucos versos, nos convida a olharmos as árvores, as
velhas árvores, tanto mais belas quanto mais antigas, vencedoras da idade e
das procelas.

As árvores têm muito a nos ensinar. Uma das suas grandes lições é sua
capacidade de adaptação.

Elas tanto crescem num cantinho do quintal, a partir de um caroço que foi
jogado a esmo quanto, inconformadas, destroem a calçada de concreto com a
força das suas raízes.

Na juventude, se dobram, ao sabor dos ventos fortes, vergam como em um
grande exercício de flexibilidade. Depois, passada a tormenta, ei-las de
tronco ereto.

E, com o passar dos anos, vão se deixando enrijecer, alargando aqui,
rompendo outros galhos logo acima, enriquecendo a cabeleira frondosa e
amiga.

Copa de sombra. Ninho de tantos pequenos alados. Alegria da criançada que
adora se aninhar aqui e ali, para observar a paisagem de melhor ângulo.

Ou amarrar cordas para um balanço. Ou montar uma casa ali mesmo, nas
alturas.

Ou, simplesmente, subir até onde possa para saborear os frutos, diretamente
da generosa fonte.

Caprichosas, as árvores se enchem de flores, explodindo em cores. E, para
que todas possam ter seu momento especial de desfile, elas se revezam no
calendário.

As quaresmeiras roxas em março, os ipês rosa em julho, os jacarandás
mimosos, com sua chuva lilás, em novembro.

Ainda se permitem servir de palco e auditório para a passarinhada que, mesmo
nas grandes cidades, canta acima de todos os decibéis dos carros do trânsito
alucinado.

Velhas árvores amigas, vêem as gerações se sucederem. Observam a criança
crescer, amadurecer. Acompanham-lhes os filhos que, também, delas irão se
servir.

Servir da sombra, dos frutos, das flores.

Envelhecem com dignidade, não se esquecendo de romper em flores, em frutos,
em atapetar o chão com maestria, em derrubar alguns dos frutos maduros para
adubar o chão.

Velhas árvores amigas...

Não temem ver seus galhos se retorcerem e seu tronco ficar enrugado. A cada
ano, encontram forças e ofertam o melhor de si: as frutas mais doces, mais
coloridas, que se tornam as mais cobiçadas.

Como se fossem se aprimorando, no transcorrer dos anos, esmeram-se na
produção: frutos mais graúdos e mais saborosos.

Velhas árvores. Tão sábias. Quando chega o outono, trocam a roupagem,
aproveitando as cores estonteantes e absurdas da estação. E se fazem mais
admiradas.

E quando o engelante inverno chega, consumindo-lhes a folhagem, ficam ali,
recolhem-se para dentro de si mesmas.

Hibernam. E basta um leve toque de sol, um aceno suave da primavera, para se
espreguiçarem, alongarem os galhos e despertarem em botões.

Sem reclamações da invernia, do rigor dos ventos, das tempestades
enfrentadas.

Tudo serviu para mais fortalecê-las.

E prosseguem, servindo, nenhuma desejando ser como a outra. As amoreiras dão
amoras, as jabuticabeiras penduram seus frutos no tronco, as uvas formam
cachos caprichosos.

Nem inveja, nem imitação, nem orgulho. Apenas cumprimento do dever. Alegria
de servir.

Aprendamos com as árvores. Despojemo-nos do orgulho e do egoísmo. Sirvamos
sorrindo, reclamemos menos e produzamos mais, com o que temos, onde estamos.


Inspirado no texto Minha árvore, meu amor, de Roberta Faria, da revista
Sorria, de abril/maio 2015 e versos da poesia Velhas árvores, de Olavo
Bilac.

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