Blogueira e médicos tiram dúvidas de leitores sobre bebês usarem a privada
Carioca Manuela Tasca havia dado depoimento à BBC Brasil contando como ensinou filho de 5 meses a usar privada.
No texto, ela explica que primeiro achou a ideia uma maluquice, mas que depois viu que era uma ótima alternativa para ajudar a família a reduzir sua pegada ambiental. A BBC Brasil publicou na terça-feira um depoimento da blogueira carioca Manuela Tasca, que conta como resolveu adotar uma técnica com o filho Luca que permite que bebês usem o vaso sanitário com poucos meses de idade.
O depoimento de Manuela surpreendeu muitos leitores, e vários comentários manifestaram dúvidas sobre a experiência da blogueira e a validade da técnica.
Foram tantas questões que resolvemos repassá-las para a blogueira e também para dois pediatras, que compartilharam suas visões sobre o assunto.
Veja algumas perguntas e comentários, seguidas das opiniões da Manuela, do pediatra e neonatologista Carlos Eduardo Corrêa (Cacá), e de Tadeu Fernando Fernandes, presidente do departamento de pediatria ambulatorial da Sociedade Brasileira de Pediatria.
O leitor Uirá Hans Emmermacher perguntou: O uso precoce do vaso não pode acarretar em problemas posteriores?
Manuela Tasca: Os bebês aprendem a ter controle, eles desenvolvem gradualmente. O método não é nem deve ser uma imposição à criança. Os pais podem utilizar fraldas, fazer um método misto e tudo no tempo do bebê. Se a família notar que é traumático para a criança, o ideal é não praticar e esperar.
Manuela Tasca: Os bebês aprendem a ter controle, eles desenvolvem gradualmente. O método não é nem deve ser uma imposição à criança. Os pais podem utilizar fraldas, fazer um método misto e tudo no tempo do bebê. Se a família notar que é traumático para a criança, o ideal é não praticar e esperar.
A estimulação não é precoce, uma vez que a vontade está lá e o pequeno nos dá o sinal. Para nossa família, deixá-lo com a fralda suja de coco e xixi seria mais prejudicial e anti-higiênico do que levá-lo ao vaso.
Dr. Carlos Eduardo: Acho que a prática é legal quando ela é uma leitura corporal do momento (da criança), feita a partir do vínculo com a mãe. Isso é algo sutil, bacana. Mas se for um treinamento, é algo para que a criança não está pronta nessa idade. Controlar o corpo do outro não é algo legal.
Controlar o esfíncter é uma função de cada indivíduo. É um problema quando a criança (é colocada na privada) não faz as necessidades e os pais forçam a barra com estímulos externos, como aplausos, sorrisos ou abrir a torneira (para estimular o xixi).
A criança não pode achar que está fazendo a coisa errada por não ir ao banheiro. Se ela não aprender a ter consciência corporal e o domínio sobre o próprio corpo, pode desenvolver enurese ou encoprese (dificuldade de controlar a eliminação de urina e fezes, respectivamente).
Dr. Tadeu Fernandes: (Essa técnica) faz mal à parte neuropsico-motora da criança. O cérebro dela não entende o que está acontecendo, o que ela está fazendo. Ela deve estar seguindo a verbalização da mãe, que aplaude.
A criança não está espontaneamente controlando o esfíncter (músculos que, ao se relaxarem e contraírem, permitem a excreção), mas sim sendo condicionada (a usar a privada). O controle fisiológico foi trocado pelo condicionamento.
Como consequência, no futuro a criança pode se tornar enurética, ou seja, ter dificuldade no controle do xixi, por exemplo. (No caso do condicionamento a fazer xixi) a criança, que não sabe esvaziar plenamente sua bexiga, pode ficar com resíduo urinário e desenvolver uma infecção urinária. É só a partir dos dois anos que a criança passa a perceber que tem esfíncter, ou seja, que tem vontade de fazer xixi, e não é bom antecipar isso. Tudo tem seu tempo.
A leitora Michele Alves perguntou: Não seria mais recomendável que se aguardasse que a criança começasse a andar? Já que antes disso ela ficaria muito dependente de um adulto?
Manuela Tasca: A pessoa pode iniciar quando quer, não há regras quanto à idade. A preferência é o quanto antes para ser mais natural. Quanto à dependência...quem escolhe utilizar o método tem que lidar com isso. Mas o bebê também faz na fralda se o adulto não estiver por perto ou não der tempo.
Já a leitora Fernanda Dosso questiona se a técnica não prejudica a coluna do bebê.
Manuela Tasca: Não há problema. Quando o bebê é muito novinho existe uma posição correta e quando ele já consegue sentar sozinho não há problemas.
Dr. Tadeu Fernandes: Talvez se ficar muito tempo na mesma posição, mas não é um grande risco.
Michele Alves enviou também uma segunda questão: Seria seguro no que diz respeito às bactérias que existem na privada? Pergunto no caso de bebês pequenos que não tomaram todas as vacinas (tenho uma menina de 3 meses).
Manuela Tasca: Quanto à higiene, é possível utilizar um peniquinho só para o bebê ou segurá-lo sem encostar no vaso. Fazemos isso quando estamos fora de casa. E,claro, sempre limpo o peniquinho.
Dr. Tadeu Fernandes: Não, não aumenta o risco (de exposição a bactérias).
Michele Alves: É possível aplicar a técnica para urina também?
Manuela Tasca: Para urina é mais complexo. É preciso acompanhar o bebê por um tempo sem fraldas e anotar ou memorizar os horários e gestos que a criança faz antes de urinar. Outra técnica: sempre após as mamadas e de manhã levar o bebê ao peniquinho e esperar ele urinar. Com o tempo ele associa e os pais ficam mais espertos às deixas que o bebê dá.
O leitor João Capozi disse: Li muitos comentários aqui do tipo 'Ela conseguiu fazer isso porque não trabalha'. Você se sente discriminada por ter decidido parar de trabalhar e se dedicar exclusivamente ao seu bebê?
Manuela Tasca: Não, me realizei profissionalmente e a pausa foi muito bem vinda. A decisão foi difícil pelo aspecto intelectual. Pensava que passar o dia só com um bebê seria muito entediante e que eu não me sentiria estimulada. Mas como você pode ver ocorreu exatamente o oposto. Os desafios são muitos, os bebês são muito mais inteligentes do que imaginamos, nós que não damos créditos. E fora isso tenho o blog e o canal do YouTube que me mantém sempre na ativa.
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