terça-feira, 30 de junho de 2015
Saco sem fundo....
Reflexões sobre os processos políticos brasileiros.
Que temos problemas estruturais no processo político-partidário já é sabido, no modelo eleitoral também, mas vamos abordar rapidamente sobre as consequências danosas do mesmo.
Primeiro, eleição acontece de dois em dois anos e não de quatro em quatro. Isso significa que esse processo eleitoral não para.
Entendendo melhor, a eleição do deputado, senador, governador, presidente, passa necessariamente pelos prefeitos e vereadores. São nos municípios que se decide as eleições.
Um deputado gastando por volta de três milhões de reais para se eleger e por consequência, os valores aumentando a cada patamar eleitoral.
Ora se um deputado gasta essa quantia e não tira um centavo do bolso, se as empresas contribuem e não tiram um centavo do bolso, alguém está pagando a conta.
Falam que se aumenta três por cento nos preços das licitações para cobrir esses gastos, o que é uma grande mentira.
A instituição da propina no mundo, inclusive podendo ser descontada no imposto de renda; fato que ocorreu nos países desenvolvidos até meados dos anos 2000, ficou descontrolada e foi proibida de aplicação nos seus países de origem.
Pensem bem, para se manter num cartel de empreiteiras, o empresário não está preocupado em quem vai ganhar as eleições executivas, faz doações para todos os partidos e mantém sistematicamente o apoio político financeiro nos deputados, que fazem as leis, que exercem suas influências, cargos e na verdade, comandam o país, o Legislativo é o motor do processo.
Só tem um problema, como bancam todo o processo, para todos os políticos e partidos, as empreiteiras não se submetem a projetos e a licitações.
O estado paga o absurdo do bônus, BDI, risco de não pagamento e, o Poder Público majora na origem, por volta de 40% do valor a título do risco, de não receberem do erário público.
O empresário a título da contribuição eleitoral majora com acréscimo ainda maior, o lucro, as contribuições e o processo a ser feito para isso tudo acontecer.
Portanto 100% do valor da obra é praxe. E aí pergunto, quem paga a conta.
Mas um problema grave ocorre no Brasil, todo mundo se sente no direito de também tirar sua casquinha e as práticas se tornaram comuns no dia a dia.
Petrobrás, Eletrobrás, Correios, áreas de saúde e de medicamentos, empresas de energia, DNIT, Ministério das Cidades, Metrô, as obras de infraestrutura, transporte e mobilidade e por aí vai.
A questão do BNDES é mais complexa, pois com a influência dos políticos, os empresários conseguem os recursos necessários para realizarem as obras, nacionais e internacionais, praticamente a juros zero, muito baixos. Resumindo são por ele, BNDES, financiados.
Estamos numa enorme ciranda, num mecanismo de interesses financeiros, num tilintar de moedas sem precedentes e ninguém vai abrir mão do seu soldo.
Essa não é uma questão partidária, ainda que a culpa recaia sobre aquele que está a frente no processo eleitoral, que ganhou a eleição, foi eleito.
A questão passa por uma sociedade de mercado, onde o dinheiro fala mais alto. As investigações mostram que a corrupção, a propina, estão instaladas de forma generalizada.
Se investigar o que quer que seja, vão encontrar indícios do problema.
A indignação ao se descobrir a cada dia um novo indiciamento, uma nova investigação, nos remete a uma grave crise de credibilidade, de valores éticos e morais, de uma sociedade de mercado, da qual estamos nos tornando.
Estar indignado é uma primeira rejeição, repulsa contra esses procedimentos que assolam e mancham a dignidade das pessoas de bem.
Precisamos reagir, de forma intensa, a esses abusos da qual somos acometidos todos os dias, para que possamos buscar a democracia; a tal democracia, e pergunto, a que preço?
O preço está muito alto, nos falta saúde, educação, transporte, e por aí vai. Nos faltam recursos, arrecadação, crescimento, credibilidade.
Veja como estamos indignados por saber que fomos enganados, ludibriados por tanto tempo. Que nos roubaram, não só nossos recursos financeiros, mas nossos sonhos, nossos desejos, nossa educação, nossas famílias, que foram desestruturadas.
Pagamos um preço muito alto pela tal democracia, que de democracia verdadeiramente, falta um longo caminho a percorrer.
Precisamos acima de tudo, recomeçar, reconstruir uma nova sociedade pautado nos valores éticos, morais, valores familiares, de amizade, de uma sociedade justa e fraterna com direitos realmente iguais, onde todos possam ter as mesmas oportunidades.
Pode soar como um desejo inatingível, mas é a única forma real, de se conseguir as mudanças necessárias a transformação dessa sociedade. É um passo de cada vez, não podemos querer mudanças baseados nos outros, nos também precisamos fazer a nossa parte.
A mudança começa em cada um de nós, na medida que buscamos um degrau a mais na nossa existência....
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